(...) A jovem despretensiosa que conheci na faculdade envelhecera depressa. Vestia-se de modo excessivamente formal, derramava perfume por todos os poros e, como jamais a vira, empoleirava-se nuns saltos altos para os quais, notoriamente, carecia de treino. A conversa foi enfadonha. Revelou-me que se casara com o homem com quem namorava desde os 15 anos e confidenciou-me planos para engravidar celeremente. Por pudor não lhe disse que sempre que fumava um cigarro ao acordar não me limitava a inalar fumo. Brindava aos anúncios que, nos maços de tabaco, avisam que fumar faz reduzir os espermatozóides e pode diminuir a fertilidade.
O momento mais palpitante do encontro foi quando me informou que a revista para a qual trabalha tem interesse em colaboradores externos e que o meu texto sobre Madrid despertara a curiosidade das chefias, que estavam dispostas a comprar-me serviços. Para ser sincero, nem fazia ideia se o meu contrato com o Periódico permitia esse tipo de relação profissional. Mas garanti-lhe que tal me estava vedado por um rigoroso acordo de exclusividade. Pedi-lhe, todavia, que tentasse manter a porta entreaberta para o futuro, assegurei-lhe, mesmo sendo falso, que a ideia de escrever para uma revista de viagens me seduzia. Despedimo-nos com promessas de ficarmos em contacto e, hipocritamente, desejei-lhe sucesso na tarefa de procriar. Anos antes, sentir-me-ia atraído pela ideia de exercitá-la para a concepção, mas, defronte do aburguesamento precoce daquela figura, em tempos bela, porque arisca e simpaticamente selvagem, os sentimentos eram outros. Não seriam de repulsa, mas de desilusão eram certamente (...).
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