(...) No começo do segundo semestre, mas ainda antes de as notas serem publicadas, encontrei-a à porta do bar da faculdade. A professora segurava o cigarro com a mão esquerda e a chávena de café com a direita. Levava delicadamente o cigarro aos lábios finos, pintados com um suave tom de castanho, expelindo o fumo com a boca entreaberta, derramando sensualidade. Abeirei-me e perguntei, sorridente e trocista, se a tinha desiludido.
- A frequência correu-lhe bem. Mas gostava de o pôr à prova noutras matérias, disparou Cristina com indisfarçável impudência. Lembro-me como se fosse hoje. Engoli em seco. Tentei retorquir qualquer coisa de espirituoso, mas as palavras atropelaram-se e não logrei senão imitir um emaranhado de sons, mais parecido com um guincho do que com uma frase.
- Amanhã à tarde tem que fazer?
- As aulas acabam à uma e meia. Depois disso estou livre.
- Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto, concluiu Cristina, piscando-me o olho direito.
Na tarde seguinte, telefonou-me. Combinámos encontrar-nos na praça da alimentação de um centro comercial. Com a mania da pontualidade que ainda hoje me consome, fui o primeiro a chegar. Sentei-me na área dos fumadores, como estipulado, e bebi um café. Cristina fez-se esperar. Ligou-me dez minutos depois da hora apalavrada. Pediu-me que fosse ter com ela ao parque de estacionamento do piso menos 2, à secção 29D azul, onde me esperava num potente carro desportivo, presente do marido. Quando entrei logo inalei o odor adocicado de um perfume com notórios efeitos afrodisíacos.
Foi neste dia que entrei pela primeira vez num motel. Cristina era claramente senhora da situação. Recusou a suíte dezoito, perguntando se a vinte e três estaria disponível. Explicou-me que a dezoito era mal situada e deficientemente insonorizada. Por baixo da janela localizava-se o ponto de encontro das funcionárias do motel e o ruído dos circunlóquios destas irrompia pelo quarto.
Voltámos ali frequentemente. Era Cristina quem pagava os quarenta euros que permitiam a ocupação do espaço durante doze horas. Nunca gozámos de uma permanência tão longa, porque ela devia estar em casa pela hora do jantar, quando o esposo e financiador chegasse. Mas antes de cada regresso ao lar, tínhamos tempo de realizar as fantasias mais recônditas. Ambos sabíamos que o principal picante da relação era a transgressão. Eu possuía a professora, mulher adulta, numa espécie de realização edipiana serôdia. Ela, amadurecida em corpo jovial, com uma vida sexual monótona entre as paredes do matrimónio, sentia-se desejada por um jovem pujante, incansável e insaciável. A relação era completamente descomprometida. Não havia dia fixo para os encontros, que tanto podiam prolongar-se das duas às sete da tarde como terem de resolver-se numa fugidia passagem de uma hora pelo quarto de cama redonda e tecto espelhado. Só existia um compromisso entre nós. (...)
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